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sexta-feira, 30 de abril de 2010

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As novas tecnologias não significam que não precisamos mais de dedicação, esforço e trabalho

A virtualização do trabalho
O desenvolvimento tecnológico significou uma grande transformação nas formas e relações de trabalho. Uma nova face se desenha com a evolução tecnológica direcionada para uma virtualização das relações da sociedade. Pierre Lévy, autor francês, trabalha essa questão de uma nova configuração da sociedade pelas tecnologias midiáticas.
DO TRABALHO

 
                     Na instituição clássica do trabalho, tal como fixada no séc. XIX, o operário vende sua força de trabalho e recebe um salário em troca. A força de trabalho é um trabalho possível, um potencial já determinado pela organização burocrática da produção. É um potencial, ainda, já que uma hora dada é irremediavelmente perdida. O trabalho assalariado é uma queda de potencial, uma realização, por isso pode ser medido por hora. Em contrapartida, o trabalhador contemporâneo tende a vender não mais sua força de trabalho, mas sua competência, ou melhor, uma capacidade continuamente alimentada e melhorada de apreender e inovar, que pode se atualizar de maneira imprevisível em contextos variáveis. À força de trabalho do assalariado clássico, um potencial, sucede portanto uma competência, um saber-ser, ou mesmo um saber-devir, que tem a ver com o virtual. Como toda virtualidade, e contrariamente ao potencial, a competência não se consome quando utilizada, muito pelo contrário. E aí está o centro do problema: a atualização das competências, ou seja, a eclosão de uma qualidade no contexto vivo, é bem mais fácil avaliar que a realização de uma força de trabalho. Em verdade, o trabalho jamais foi pura execução. Se pôde ser tomado como uma que-da potencial, uma realização, foi apenas em consequência de uma violência social que negava (embora utilizando) seu caráter de atualização criadora.
               Uma coisa é certa, a hora uniforme do relógio não é mais a unidade pertinente para a medida do trabalho. Essa inadequação há muito era flagrante para a atividade dos artistas e dos intelectuais, mas hoje se estende progressivamente ao conjunto das atividades. Compreende-se por que a redução do tempo de trabalho não pode ser uma solução alongo prazo para o problema do desemprego: ela pereniza, com um sistema de medida, uma concepção do trabalho e uma organização da produção condenadas pela evolução da economia e da sociedade. Só se pode medir - e portanto remunerar – legitimamente um trabalho por hora quando se trata de uma força de trabalho-potencial (já determinado, pura execução) que se realiza. Um saber alimentado, uma competência virtual que se atualiza, é uma resolução inventiva de um problema numa situação nova. Como avaliar a reserva de inteligência? Certamente não pelo diploma. Como medir a qualidade em contexto? Não será usando um relógio. No domínio do trabalho, como alhures, a virtualização nos faz viver a passagem de uma economia das substâncias a uma economia dos acontecimentos. Quando irão as instituições e as mentalidades acolher os conceitos adequados?           
                       Como aplicar os sistemas de medida que acompanham essa mutação? Na economia do futuro, as sociedades bem sucedidas reconhecerão e alimentarão em prioridade o virtual e seus portadores vivos. Com efeito, dois caminhos se abrem aos investimentos para aumentar a eficácia do trabalho: ou a reificação da força de trabalho pela automatização, ou a virtualização das competências por dispositivos que aumentem a inteligência coletiva. Num caso, pensa- se em termos de substituição: o homem, desqualificado, é substituído pela máquina. No caminho da virtualização, em troca, concebe- se o aumento da eficácia em temos de coevolução homem-máquina, de enriquecimento das atividades, de acoplamentos qualificadores entre as inteligências individuais e a memória dinâmica dos coletivos.





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